quinta-feira, 26 de abril de 2012

Abrigo

A peça Abrigo é muito subjetiva e abstrata, oferecendo ao público um mosaico que ele mesmo pode interpretar a sua maneira. É atuado no Espaço Beta do SESC Consolação, um espaço alternativo no 3ºandar que oferece a possibilidade de desenvolver um espetáculo surreal e onírico, dando mais possibilidades aos atores de produzirem algo original assim como é o porão do CCSP, um dos ambientes teatrais que mais gosto de assistir.

Como estou lendo atualmente um livro sobre um cara que descreve as agruras de um prisioneiro, como a peça se chama abrigo e como até chegar no SESC me deparei com muitos mendigos logo relacionei com um morador de rua que vive em seu próprio mundinho fantasiando todos aqueles anseios que temos, vivendo em sua própria loucura. Todos os dias me deparo com figuras como esta que são zumbis a luz do dia vagando pelas ruas do centro de São Paulo sem destino, sem perspectivas, sem futuro, sem esperança, que muitas vezes são solitárias e assim como o Tom Hanks de Náufrago cria em sua consciência um amigo imaginário com quem pode se desabafar e tratar de suas angústias. Não sei se é loucura, mediunidade, esquizofrenia ou só uma pessoa que resmunga coisas pra si, mas a cada dia tem mais gente assim vagando no centro e nunca os vi fazendo mal para nós. Muito ameaçadores, todos nós apesar de termos piedade, nos afastamos com medo de violência ou contato com a imundície. São seres humanos com sentimentos que estão na miséria e isto afeta tanto o corpo quanto a mente.

Outra análise que se pode fazer é sobre a atriz que participa belamente da peça. Ela representa o desejo que nos ronda mas inalcançável, algo que nos tenta a todo momento. É quando terminamos um relacionamento. Ficamos feridos e revivendo em nossa mente a pessoa amada que provocou nossa dor o tempo inteiro. Quando almoçamos ela está lá, quando dormimos está lá, sempre presente oferecendo um sonho impossível de alcançar e ao mesmo tempo muito querido. É um pesadelo sem fim em um loop interminável. Revivemos os momentos de felicidade e angústia e não conseguimos nos libertar do círculo vicioso.

Mas acho que o espetáculo pode provocar mais análises. Nem sei se este foi o intuito do diretor, mas estas foram as impressões que tirei.

DICA: Sente se na primeira fileira.
MOTIVAÇÃO: Tem nudez – kkkk.


Peça: Abrigo
Gênero: Drama
Direção: Darson Ribeiro
Com: Henrique Ponzi e Janaína Brizolla
Texto: Raphael Ramos
Sesc Consolação Espaço beta - 3º andar
R. Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque, Centro, São Paulo
segunda e terça: 21h - Até 8/5.

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