terça-feira, 29 de outubro de 2013

Um Filho Seu

37ºMostra Internacional de Cinema São Paulo
Un Enfant de Toi
2012 – França

Mais um filme francês que assisto nesta mostra de cinema e desta vez a história fala sobre um casal que viveu junto durante cinco anos e se separou. O filme começa três anos depois quando os dois se reencontram a convite dela para se rever e trocar figurinhas. Cada um dos dois já está em um novo relacionamento, mas eles ainda têm muita coisa em comum, a intimidade e o carinho ainda estão presentes no ar e parece que ainda é um casal apesar de não se verem por muito tempo.

Existe uma filha para criar o vínculo entre eles e não entendi porque a filha mora com ele. Normalmente vemos os filhos de pais separados morando com a mãe, claro. A menininha é muito bonitinha e inteligente, ela sabe muito mais do que seus pais pensam que ela sabe. Muitos adultos cometem este erro ao achar crianças estúpidas e inocentes. Muitas são perceptivas e veem tudo, apesar de talvez um pouco distorcidas e de não compreenderem totalmente a situação. Mas encarar uma criança como idiota é um erro comum.

O casal coloca os assuntos em dia e comentam sobre seus atuais parceiros se comparando, perguntando se é melhor ou pior que eles, se são felizes nesta vida, quais os planos pro futuro, curiosidade de ex-amor. A situação me lembrou bastante do filme Antes do Por do Sol que trabalha mais ou menos com a mesma situação, de um casal que já tem sua família conversando sobre suas vidas. E assim como o filme citado, o Um Filho Seu também deixa bem claro que os dois ainda se importam um com o outro e existe um amor ainda não soterrado totalmente.

O que achei muito impressionante é que seus atuais parceiros sabiam do encontro entre os dois, não era coisa escondida. Eles têm uma filha então um encontro é muito bem explicável, mas mesmo assim começa-se a surgir certo ciúme no ar, pois eles percebem a proximidade deles. É uma situação que eu não saberia como lidar se acontecesse comigo. Uma namorada se encontrando com o ex-namorado que ela ainda tem resquícios de amor.

Acho curiosa a situação onde as pessoas que tiveram relacionamento durante certo tempo continuam apenas amigas depois que tudo acaba. Comigo não funciona assim. Se o término do namoro foi ruim, não quero vê-la mais por causa da dor provocada. Se o término foi mais ou menos consensual e tranquilo, o amor ainda permanece ali e ainda existe uma chance de volta. Os reencontros são sempre oportunidades de revivê-lo. Quando revia uma namorada que o termino não foi definitivo e ainda tinha algum sentimento, a gente acabava se reaproximando e voltando a namorar.

Apesar de um começo promissor e uma sequencia de cenas muito boas, o filme começa a se arrastar depois do meio. Os olhares ao relógio são frequentes na espera do final do filme e ele não acaba, é interminável. Fiz questão de procurar o nome do diretor e do roteirista e fiquei surpreso de descobrir que se tratava de um homem. Eu tinha certeza que era uma mulher. Só uma mulher estenderia uma D.R. tanto assim. No final da sessão, na saída, ouvi gente comentando a mesma coisa que eu estava pensando: que o filme deveria ser menor, talvez pudessem cortar pelo menos uma hora de enrolação, ser mais objetivo. Apesar disto, foi legal.

sábado, 26 de outubro de 2013

A Praga

37ºMostra Internacional de Cinema São Paulo
2013 – Espanha

O filme espanhol tem duas histórias paralelas, uma com um lutador de luta Greco-romana que também trabalha para um agricultor numa lavoura, a outra é sobre uma enfermeira que trabalha em um centro que cuida de idosos. Esta parte, da enfermeira é bem mais interessante que o outro, pena que não foram mais avante no assunto, pois daria mais histórias.

Respeito profundamente estes profissionais que cuidam de idosos em asilos, são abnegados, com certeza estão purificando sua alma aqui na Terra e sairão fortalecidos desta vida. É um serviço dificílimo de executar todos os dias, eu mesmo acho que não conseguiria realizar coisa parecida. Sei que é um serviço como outro qualquer e que eles são pagos pra isto, mesmo assim ainda os respeito. Imagina aqueles que fazem isto em caráter de serviço comunitário então? São pessoas iluminadas.

Ela caminha por um longo caminho de terra pra chegar ao serviço e em uma dessas viagens consegue uma carona de um agricultor que achou, por acaso, uma velhinha com problemas de locomoção e necessitando de cuidados especiais. Esta enfermeira acaba ficando responsável por ela no instituto. Acho que a velhinha não é atriz, não a veremos em outro filme, ela tinha problemas reais no corpo. Deu até dó de vê-la no meio do campo tentando caminhar no chão de pedras. Acho que o diretor fez igual ao Cidade de Deus, pegou pessoas locais sem experiência com filmagem para fazer papéis no filme.

Esta visão do idoso me trás a reflexão de quão frágil a vida é. Quando jovens, não pensamos nas amarguras que teremos no futuro. Aposto que esta velhinha do filme quando mais nova era uma menina bonita e cheia de vida. Chegar num estágio como o que ela está me entristece um pouco. Ela não tinha família e estava vulnerável nas mãos de pessoas que queriam seu bem. E esta senhora ainda tem sorte por ter algum lugar decente pra ir ao contrário de muitos que sofrem ainda mais.

O filme tem alguns momentos emotivos como o fato das enfermeiras se apegarem aos seus pacientes. Imagina chegar um dia e descobrir que aquele senhor que você conversa e cuida morreu durante a noite? Ou mesmo ver as dores e as desesperanças deles no dia a dia sem poder fazer nada. As profissionais estão ali pra amenizar este sofrimento e tentar dar uma vida mais digna pra eles, dar amor, atenção coisas que parecem simples mas que eles não tem. As enfermeiras, quando dedicadas, são emissárias de Deus ali.

Nem tudo é tristeza claro. Existem muitos momentos felizes e engraçados. Não podemos ser também depressivos e ver apenas o lado ruim das coisas, mas ser realista com a situação em que se vive. A ideia é tentar ser feliz em qualquer situação. Se a vida der limões, fazer uma caipirinha.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Chaika

37ºMostra Internacional de Cinema São Paulo
2012 – Espanha/Geórgia/Rússia/França

“Somos Cazaques. Somos homens livres. Somos guerreiros. Somos a simplicidade do mundo e seu fim”.

Este é mais um daqueles filmes que te embarcam numa cultura diferente, num universo alternativo, dando a oportunidade de conhecermos a vida de outros seres que estão a milhares de léguas longe, pessoas que provavelmente nunca teremos a oportunidade de ver in loco. São coisas que o cinema nos proporciona, uma viagem de suas horas para um lugar diferente de nossas vidas cotidianas e percebemos que nossa vida não é nada, os problemas que enfrentamos no cotidiano não são nada.

Chaika é uma prostituta que trabalha fazendo programa em um navio cargueiro. O quão degradante isto é? Ela vai entrando naquela embarcação gigante, com pouca higiene e passa por um corredor estreito junto com suas colegas num corredor com vários homens daquela estirpe, prontas para o abate. Um pouco parecido com aquela cena do filme Bruna Surfistinha que me ela faz uma fila de caras todos podres pra comê-la. Ela acaba engravidando e sendo rejeitada num cais do porto. Um dos marinheiros gosta dela e decide acolhe-la neste momento de abandono, uma prostituta com filho.

Ela embarca nesta, desesperada, mas não imagina o quão longe o cara mora. Ele decide pegá-la do calor o Cazaquistão e levá-la para a casa de sua família no inverno eterno da Sibéria. O lugar é tão isolado que só o ambiente já seria de extrema dificuldade. Mas soma-se a isto a família do marinheiro que não é nada amistosa e deixam o ambiente mais carregado ainda. O clima de opressão é grande e ela se vê numa posição de prisioneira já que para sair dali sozinha é muito difícil devido ao terreno acidentado com clima terrível. Ela chega a pedir para seu companheiro para partir, mas a situação vai se prolongando. Lembrou-me muito do filme Casa de Areia, onde a Fernanda Torres se vê na mesma situação. Outro filme que explora o isolamento e a dificuldade de sair é A Massai Branca.

Se nós paramos pra pensar é uma metáfora para os problemas que enfrentamos na nossa vida. Passamos por situações aflitivas e opressoras no dia a dia, mas conseguimos seguir em frente, suportando uma carga de pressão em nossos ombros porque não sabemos como sair daquela posição. Não estamos contentes e temos vontade de sair. Mas da decisão de mudar e realmente por a mão na massa tem uma distância quilométrica. Muitos sonhos são adiados, muitas decisões não são tomadas esperando uma época ou situação melhor. No filme ela sempre adia a saída da Sibéria para o fim do inverno, ou quando seu companheiro decidir acompanhá-la, ou quando a mãe dele morrer. Sempre tem algo que a faz suportar a dor da situação para que no futuro consiga voltar ao seu país de origem.

Apesar da reflexão, sai do cinema um pouco deprimido. É um filme com imagens belíssimas do deserto do Cazaquistão e na inóspita Sibéria, mas com o retrato de uma vida que parece ser de outro planeta. Parece que é uma família vivendo em Marte.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Aventuras no Cine Livraria Cultura

O dia não estava bom, já havia algo no ar sem que eu soubesse. Fui assistir mais um filme da 37º Mostra de Cinema de São Paulo e peguei a sessão das 20h10min, que era a única que conseguiria assistir devido ao horário de saída do serviço. Após este, teria uma sessão às 22h concorridíssima que já estava esgotada, muita gente procurava a sessão seguinte, sem sucesso, e acabava se contentando em assistir o filme que eu veria. O filme das 22h pra mim não teria condições, senão não chegaria em casa por causa do transporte público que encerra à meia-noite.

Pra começar houve um atraso no início. Formaram uma fila gigante para a entrada, mas as portas não se abriam e a impaciência começou. Um filme que estava previsto o começo às 20h10min deve abrir as portas, no mínimo uns 10 ou 15 minutos antes pras pessoas poderem se acomodar decentemente, mas já era 20h15min e nada de entrarmos.

Na entrada havia certo alvoroço com a presença do Ney Matogrosso na sala de espera. Muita gente tirando fotos com ele que pacientemente conversava com as pessoas. Pensei que ele iria assistir à mesma sessão que estávamos entrando, mas depois de estar La dentro comentaram que ele veio apenas para prestigiar o filme exibido anteriormente, um documentário sobre sua vida. Então depois de nos acomodarmos, começa o filme e para a nossa surpresa é o filme do Ney Matogrosso. Ninguém entende nada e os organizadores entram correndo dizendo que foi um engano, que estavam exibindo o filme anterior. Acendem-se as luzes novamente e lá vem mais espera. Até que as pessoas se comportaram civilizadamente, alguns desistiram, mas a maioria ficou.

Acabei fazendo amizade com um pessoal por causa dos problemas. Uma mulher, animada com a mostra, mas desanimada com os problemas, comentou que atrasos estavam sendo uma constante nos filmes exibidos pela mostra, que era uma falta de preparo monumental. Um cara, que era estudante de cinema, disse que já tinha assistido 10 filmes e a mulher de Santo André, orgulhosa, disse ter visto 12. Eu só estava no meu terceiro e olhe que já achava muito. Ai começou a troca de conhecimentos cinematográficos e de dicas para outros filmes da mostra. Se não fosse por este grupinho o tempo de espera seria muito mais longo do que foi. Não sei se aguentaria tanto.

Percebi que a organização da mostra contratou muitos funcionários para a organização do evento, mas não preparou nenhum deles o suficiente para lidar com os problemas que eventualmente surgissem. Tinha, pelo menos, uns 7 funcionários que corriam de um lado para outro tentando solucionar o problema, um conversando com o cara da cabine, outro com um organizador, e o resto meio perdido na sala com um olhar meio desesperado para o público irritado sem nenhuma resposta a dar. Simplesmente não tinham uma explicação plausível de porque deu problema, e o mais importante: previsão de resolução. Isto se seria resolvido a tempo.

A mulher de Santo André relatou que foi numa sessão no shopping Frei Caneca em que os organizadores venderam mais ingressos que a sala comportava, fazendo as pessoas sentarem no chão. Achei um absurdo. Ela disse que tinha gente ligando para os bombeiros pra interditar a sala. O cara que estava conosco disse que também presenciou o evento e confirmou tudo o que ela disse. Não sei quem faz isso, se é a organização da mostra ou do Cinemark, mas é uma coisa básica. Lembramos que aquela sessão seguinte concorrida com ingressos esgotados estava sendo empurrada cada vez mais pra frente com o nosso atraso e imaginamos o caos que teria com aquele tanto de gente chegando pra ver um filme e este ser postergado, ou pior, cancelado.

Não entendíamos a demora da resolução. Não era só trocar os rolos? Será que se esqueceram de trazer para a cabine? Foram na casa do diretor, na Geórgia, pegar a fita? Somente às 21h10min, uma hora após o início previsto, a sessão finalmente começou. Uma hora pra troca de filme, talvez um recorde. Ou seja, tivemos uma sessão de uma hora de tela preta e um tempo desperdiçado. Mas finalmente vimos a película.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Guerra dos Beagles

Uma discussão louca está ocorrendo atualmente sobre o caso do protesto dos ativistas contra o Instituto Royal que estaria supostamente maltratando animais em testes científicos de produtos farmacêuticos. Cerca de 150 pessoas invadiram o instituto e libertou os 178 cachorros beagles. Tenho ouvido muita bobagem na mídia e principalmente dos usuários de redes sociais e pessoas com as quais eu interajo tanto online quanto pessoalmente. Se for perguntado, todo mundo apoia o ato. Ninguém quer ver um bichinho indefeso ser maltratado por gente, causa ojeriza só de imaginar tal ato covarde. Eu mesmo tenho um beagle em casa, comprado exatamente em São Roque há uns 2 anos.

Mas é pra se parar pra pensar sobre o instituto. Até onde eu li, ele não estava descumprindo nenhuma lei. O estudo de drogas e testes científicos está muito bem legislado e o uso de animais como cobaias é amplamente difundido, coisa normal no mundo inteiro. Claro que deve ter suas regras internas, mas no final é um animal sendo testado com drogas que podem causar grande dor e matá-lo. Tudo legal.

As pessoas podem se levantar e protestar e querer que esta situação mude. Não estamos mais na época da barbárie e somos seres teoricamente mais conscientes e sábios do que os nossos antepassados homens das cavernas. Então se podem propor novas leis onde estudo de animais para pesquisa seja proibido. Beleza. Mas acusar o instituto e ser uma organização maléfica que curte torturar animais em troca de dinheiro parece ser uma conclusão de crianças de 5 anos.

Este caso recebeu um apoio incondicional das pessoas e uma proporção enorme porque as vítimas são os beagles, animais bonitinhos e dóceis que todo mundo ama e quer proteger. Por que ninguém se revolta com os estudos em ratos que sempre houve? Muitos outros animais são usados para pesquisa como os coelhos, cachorros e os macacos, mais próximos do homem. Por que as pessoas acordaram agora para protestar contra este tipo de atividade. Porque são os pobres bichinhos de pelúcia vivos. Ninguém liga para os outros animais mais feios, mas com o mesmo direito à vida do que os outros.

Os produtos não são inventados do nada, não caem do céu. O processo de criação e aplicação é arcaico e é a base do testar para ver se funciona. Testa e ver se dá reação alérgica. Não tem como reproduzir muita coisa nos laboratórios e como é proibido fazer isto em humanos, eles tentam aplicar os testes nos animais mais parecidos conosco. Se as pessoas decidirem que é errado realizar esta atividade, é bom então aceitar a ideia que remédios e outros tipos de produtos não serão inventados com a mesma rapidez e eficiência que temos hoje em dia. Qualquer decisão que tome tem que abrir mão de alguma coisa. Hoje em dia é aceito testes em animais para que possamos ter nosso conforto. Amanhã podemos decidir que nosso conforto não justifica a tortura de animais. Será que as pessoas estão propensas a aceitar este novo mundo?

Digamos que os ativistas concordem comigo e decidam que não se devem ter animais, sem exceção, sejam testados, pois eles são seres de Deus que não merecem tal tratamento. Beleza. Mas e a questão dos carnívoros, daqueles que adoram brincar de Greenpeace, mas não deixam de fazer um churrasco no final de semana. Onde está o defensor dos animais agora? Para não cair na hipocrisia, um defensor dos animais deve ser obrigatoriamente vegetariano, senão suas palavras pra mim serão como o vento e não farão nenhum sentido. E os rodeios que temos todos os anos em Barretos, onde animais são brutalmente assassinados? Aposto que tem muita gente que está defendendo os beagles que vai todo ano pra Barretos fazer a festa com bastante churrasco.

Enfim. Acho que meu ponto está claro. Acho que este ato pode ter sido feito com boas intenções por pessoas sem a noção do que faziam. Foi um ato de vandalismo para com uma empresa que até onde sei estava em dia com suas atividades, sem descumprir nenhuma lei. É uma ação que tomou caráter político e está sendo usada pelos Black Bloc apenas como desculpa para novos atos de vandalismo. E agora que o negócio está fedendo, os ativistas estão sumindo. Já acharam alguns beagles soltos e perdidos na cidade, largados por gente que não quis cuidar. Bom, acho uma palhaçada só.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Circuito de Corridas Sesi – 4ºEtapa – São Paulo

Minha terceira corrida do ano e não estava programada. Resolvi corrê-la para incentivar meu irmão que está começando a participar de eventos como este, embora caminhando. Ele nos 5km e eu nos 10km. Já minha irmã foi vencida pela preguiça, pois esta atividade une as duas coisas que ela mais odeia: fazer exercícios e acordar cedo. Hoje, ainda mais, foi a mudança do horário de verão onde perdemos uma hora da noite de sono. Saindo de madrugada, à noite, apesar de fria, estava agradável. O trem, que eu temia atrasar, chegou rápido e a ida foi sem nenhum percalço. Apesar de minha prova só começar às 7h45, a do meu irmão começaria às 7h e eu queria chegar à largada para dar o apoio. Consegui encontrá-los faltando 15 minutos para a largada e lhe desejei boa prova.

Como é de praxe, teve o aquecimento pré-prova feito pelos organizadores, que consiste em preparar os músculos mais utilizados numa corrida. Em todas as provas que participei o roteiro foi mais ou menos igual. Mas a equipe contratada pela organização deve ter esquecido que correríamos 10km a seguir e fez um roteiro de aula de aeróbica. Tem alguns movimentos que eu até entendo dela pedir para o pessoal repetir como simular uma corrida parada levantando os joelhos e tal, mas ela passou quase meia hora pulando e pedindo para o pessoal repetir. Eu a segui até certo ponto até começar a suar, depois resolvi abandoná-la. Eu ia cansar antes de começar a prova. Se um gordinho estivesse participando da corrida para perder peso, nem precisava começar com esta pequena aula de academia que experimentamos. E ela dizia que estava acabando 10 minutos antes de realmente acabar.

Achei muito estranho ter duas largadas com uma diferença de 45 minutos cada. Será que teve muita inscrição e ficaria apertado? Em todas as provas que participei sempre se larga junto e em determinado ponto os corredores se separam para as suas respectivas distâncias. Então a avenida tinha uma separação, sendo um lado para os corredores e caminhantes que estivessem chegando e o outro lado par que estava largando nos 10k, o que estreitou muito e apertou os atletas que tiveram que trotar e caminhar em alguns momentos. Acho que meu tempo seria até um pouquinho melhor se não tivesse este congestionamento inicial. A Avenida Pacaembu sempre é interditada apenas de um lado, liberando o outro para o tráfego. Ao olhar para o lado percebi várias pessoas correndo na primeira faixa do outro lado e estranhei. Fiquei imaginando se eles interromperam uma faixa extra e me perguntei onde tinha esta sinalização. Mas acompanhando mais atentamente descobri, para meu assombro, que não tinha faixa extra nenhuma, eram loucos varridos que resolveram invadir a via trafegada apenas para correr mais rápido que os demais. É aquela velha pressa brasileira em que maus motoristas resolvem andar em acostamentos ou guiar em velocidades altíssimas se expondo ao perigo apenas para ganhar alguns minutos. Lamento que uma coisa dessas aconteça, pois pertenço à classe de corredores de rua e não quero que as pessoas pensem mal de nós por causa de gente irresponsável como esta. Depois acontece algum acidente e querem culpar e linchar os motoristas que não estavam descumprindo a lei coisa nenhuma.

O tempo estava perfeito para correr. Sem sol, com um ventinho frio para resfriar o corpo e nenhuma chuva. O dia, à tarde, fez um sol que castigou os demais, mas na hora da corrida ele nem apareceu. Provavelmente graças ao novo horário de verão, que tudo indica trará melhores condições de prova daqui por diante. Só é ruim para chegar às 7am.

Ao passar em baixo de uma via que dava acesso ao elevado, veio direto um cheiro de churrasco de frango nas minhas narinas, um terror para aqueles que estão querendo emagrecer. Sorte que estava bem alimentado e nem me perturbou (muito). Seguimos. À frente fizemos um contorno para subir no elevado e ao passar em cima do mesmo trecho novamente aquele cheiro de frango veio. Menos forte, mas veio. O que um cara estava fazendo comida tão cedo assim, às 8h! Só pra judiar dos pobres coitados. É tortura psicológica.

Em cima do elevado consegui manter a corrida no mesmo ritmo, sem forçar, o que já é um avanço pra mim que sempre me cansava neste trecho. Ao cruzar o km 5, metade da prova, olhei para meu relógio e marcava 28 minutos. Minha meta era fazer, no máximo, em 29 minutos para atingir um resultado final abaixo de 59 minutos. Estava bem e dentro do programado. Mas o cansaço começava a chegar e em certos momentos tive que dar uma caminhada para recuperar o fôlego. Nessas horas só pensava na chegada e do quanto estava desperdiçando de tempo. Eu teria que permanecer no mesmo ritmo da primeira metade se quisesse fazer um tempo melhor e essas constantes paradas me preocupavam. Mesmo assim prossegui. Ao voltar à Avenida Pacaembu, continuei no mesmo ritmo. Antigamente nesta parte eu mais andava que corria, mas hoje foi diferente.

Atingi um tempo final de 56:46, abaixando em quase 3 minutos o tempo anterior. Foi o que eu esperava, dentro o planejado. Feliz por mais uma conquista, mas ainda em busca de um tempo próximo há 50 minutos.

Outro ponto negativo foi a hora de retirar a mochila no guarda volumes. Uma desorganização completa. Já na chegada estranhei que as plaquinhas não estavam indicando a numeração do corredor, por exemplo, de 0 a 1.000, de 1.000 a 2.000. Mas achei que eles sabiam se organizar lá dentro. Quando fui retirar, vi o caos. Parecia a bolsa de valores com a galera gritando seus números para funcionários perdidos procurando sacolas lá dentro. Já imaginei o pior. Quando consegui a atenção de uma moça, ela rapidamente achou meus pertences, diferente do que acontecia com os outros.

domingo, 20 de outubro de 2013

Em nome de...

37ºMostra Internacional de Cinema São Paulo
2012 – Polônia

Um padre é transferido para uma pequena cidade no interior da Polônia para cuidar de jovens com problemas, mas com o decorrer do filme a história vai seguindo por outro caminho que eu comecei a suspeitar no início. Não tinha lido nenhuma resenha antes de ver o filme, foi o primeiro que vi em cartaz e decidi entrar. Achei o ator principal igual ao Graham Chapman, que faz o Brian de A Vida de Brian.

Algumas passagens do filme são curiosas. Um grupo de garotos, que o ele dá assistência, debate entre si da competência do padre em resolver os seus problemas e ser a solução. O padre, representante da igreja e de seus dogmas e crenças, ensina a ser uma pessoa boa e ter um comportamento X. Mas eles se perguntam como é que o padre sabe o que Deus quer. Realmente. É muito lógico da parte dos garotos já que ninguém na história deste Universo foi pro outro lado e voltou para nos contar o que se passa lá e o que Deus quer de nós. Todas as religiões e igrejas foram criações humanas que se dizem representadas por deuses. Então o que o tal padre sabe que nós não sabemos. No máximo ele pode ser uma boa pessoa e ensinar coisas realmente benéficas para o convívio social de um indivíduo, mas dizer que ele ensina coisas que Deus quer é muita pretensão.

Em outra parte da história, um dos garotos vai se confessar para o padre. A maioria das pessoas tem dificuldades de se abrir, de contar seus segredos e seus sentimentos mais íntimos para uma pessoa desconhecida e tem medo da resposta. O padre, neste momento, diz que a pessoa não está confessando seus pecados para o padre e sim para Deus. Quem está ouvindo naquele momento é Jesus Cristo. Neste momento geralmente a pessoa relaxa e exprime seus conflitos internos não vendo o padre como uma pessoa normal e sim um condutor para seu criador. É tudo muito bonito, mas pra mim esta história cai numa contradição. Se nós estamos falando direto pra Deus, porque precisamos de um cara com uma roupa preta pra ouvir. Eu posso falar com Ele em casa, sem a necessidade de uma religião. E quem é ele pra me perdoar ou me castigar?

Outro momento do filme é quando, em uma das confissões, um garoto espera que o padre dê um sermão e um castigo como rezar 300 terços. Mas a sentença é correr uma hora por dia. O garoto fica surpreso com esta resposta e o padre diz “correr também é oração”. Fiquei pensando sobre isto. Tem coisas que nos concentramos muito na vida que é como se fosse uma espécie de meditação, que só traz benefícios para o corpo e mente. Eu corro freqüentemente e vejo isto acontecer sempre, durante minha corrida tenho um milhão de pensamentos sobre a vida e deixo a mente se expandir. Depois da corrida parece que passei por uma terapia solo e saio cheio de idéias para minha vida. Deve acontecer com outras coisas como aquela senhora que fica tricotando o dia inteiro, ou aquele que está preparando uma comida ou fazendo algo que requer uma concentração. Na verdade estão todos num momento zen e em paz consigo mesmos. Ao sentenciá-lo correr uma hora, na verdade está dizendo pra pensar muito no que fez. Bom método.

A gente sempre relaciona um padre afetuoso com um pedófilo, pelo menos eu fiz esta conexão imediata. Mas a história não é tão forte assim, ela apenas fala de um padre que está em dúvidas de sua sexualidade. Em certo momento ele tem certeza de que é gay e fica extremamente depressivo com a situação, sendo obrigado a esconder seus verdadeiros sentimentos. Deve ser uma coisa terrível mesmo ser obrigado a viver e ser outra pessoa.

O filme acabou seguindo por um caminho diferente do que eu pensava. No final, ao receber a ficha para avaliação, anotei 3-bom. Uma nota mediana.

sábado, 19 de outubro de 2013

Alternativo contra pop

Fui numa noite de bandas alternativas semana passada, que tocou estilos diferentes como rock, ska e punk. Uma das bandas era muito boa e achei parecida com o Raimundos mais underground. Já a segunda banda era uma tentativa de ser mais comercial unindo outros instrumentos de sopro no rock e lembrou uma fase mais chata do Skank. Não podemos deixar de pensar que os músicos também querem ganhar dinheiro fazendo música própria sem covers.

Deve ser uma coisa muito difícil de fazer, tocar músicas próprias, desconhecidas, para uma plateia impaciente e ávida por sucessos. Mesmo que a música seja boa, normalmente a população comum não gosta muito de ouvir música que não conhece, muito menos vindo de um artista que ela nunca viu. Só quem é ávido por descobrir novos sons sendo feitos no momento ou daquele que simplesmente gosta de uma boa música independente de onde venha devem gostar. Confesso que eu não pago ingresso pra ver uma banda desconhecida assim do nada. Pra ar meu dinheiro, eu tenho que estar muito afim dever aquele show e não é o caso. Preciso conhecer a banda de antemão e saber se realmente quero vê-los ao vivo. Eu disponibilizarei tempo e dinheiro numa coisa que nunca vi, então preciso me preparar antes. É uma dica minha para as bandas iniciantes: Espalhem sua música pela internet. MP3 de graça e vídeos no youtube. Quando mais conhecida uma banda se torna, mais interesse proporcionará e ai sim pode gerar nas pessoas interesse em acompanhá-los. Venda de cd é passado. Esqueça ganhar dinheiro com venda da sua música, pelo menos no princípio. Concentre-se em fazer shows.

Eu estava curtindo a banda quando o baixista, entre uma música e outra, solta a seguinte frase: “Obrigado a todos pela presença. É muito bom ver gente que apoia as bandas iniciantes e não fica na modinha do show do Black Sabbath”. Senti-me um pouco atingido nesta hora por ter ido ao show citado, mas nem um pouco culpado já que estava ali também assistindo o show deles. É como aquela frase “uma coisa é uma coisa e a outra coisa é a outra coisa”. São dois shows de rock sim, mas com graus de importância diferentes. Até entendo a frustração deles de ver um show mais famoso tomar lugar e atrair mais público de o deles, mas não dá pra culpar o rico, o mais famoso pelos seus próprios problemas. Fazendo uma analogia, é a mesma coisa do pobre culpar e desprezar o rico por ser rico. Caráter não é medido por classe social. E som bom não é sinônimo de popularidade e de quantidade de ingressos vendidos. Luan Santana lota show todo dia e é uma bosta, em minha opinião, claro.

Sei que existe muito moleque que foi ao show do Sabbath porque é moda, porque curte metal e disseram que uma banda gringa tava vindo pro Brasil e pagou o ingresso com carteirinha de estudante e foi bater cabeça lá na pista. Eu fui porque eles são os pais do meu estilo preferido de música, os criadores. E provavelmente é a última vez que vejo ao vivo já que os integrantes devem ter quase setenta anos. Era uma oportunidade única para acompanhá-los ao vivo e era uma situação totalmente diferente esta banda iniciante que faria um show de graça para promover suas composições pessoais.

Claro que não tinha nem 0,1% das pessoas que foram ver o show mainstream ali. Devia ter, no máximo, umas 50 pessoas acompanhando o som deles. Não é apenas culpa da banda. O evento é muito mal divulgado e eu que costumo procurar coisas boas pra ir só descobri que aconteceria o evento uns dois dias de antecedência. O Black Sabbath eu se que vai acontecer o show desde o início do ano. Outra dica para iniciantes: faça um site com informações da banda, histórico, arquivos de música, vídeos, e principalmente agenda de shows. Coloque o máximo de detalhes. Eu procurei saber um pouco sobre a banda e não achava nada na rede. Assim não dá pra culpar o público de não ter prestigiado este momento.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Black Sabbath – Bastidores

Sai do serviço mais cedo, claro depois de ter avisado minha chefe com umas duas semanas de antecedência. A ideia era chegar o quanto antes pra pegar um lugar o mais próximo do palco e sem muvuca, tranquilo e sem correria. Encontrei meu amigo, parceiro de shows, e seguimos pelo metrô. No jornal do dia era orientado que o público descesse na estação Santana, mas era uma burrice fazer isto já que a estação Carandiru era bem mais perto do Campo de Marte. Os organizadores devem ter divulgado Santana pra dividir os fãs em duas estações, mas os mais ligados desceram realmente no Carandiru.

Gente de preto que não acabava mais. Da estação saia aquele grupo de corvos em manada atravessando a Avenida Cruzeiro do Sul forçando o transito parar, mesmo não havendo semáforo ou faixa e pedestre. Na rua que liga ao Campo de Marte existiam diversos vendedores ambulantes com bebidas e camisetas, como de praxe. Mas o que me surpreendeu foi a qualidade da venda. Era só cerveja Heineken, Budweiser e Stella Artois. Em evento povão, geralmente vemos Schin, Brahma e Skol no máximo. Será que eles pensaram que num show do Sabbath teria gente com um gosto mais refinado? Comprei umas Stellas só pra marcar presença, mas já seguimos pro evento. Vontade de ir ao banheiro no meio do show não dá né, principalmente um desse tipo.

Enquanto degustávamos a cerveja apareceu um colombiano do nada que disse ter vindo ao Brasil apenas para assistir o show e estava vendendo cartões da banda pra ajudá-lo a voltar pra casa. Argumento de venda que pode ou não ser verdade, mas não estava com a mínima vontade de gastar dinheiro com aquilo e recusamos apesar da insistência. Vimos sair resmungando e resolvemos nos dirigir direto pra entrada. Outra coisa idiota, que irrita muito e quase sempre acontece em shows de rock e entrada de estádio de futebol é a colocação de grades obrigando a formar uma fila bem longe da entrada. Até entendo o motivo, pra não virar muvuca e atrapalhar o transito, mas é frustrante estar a apenas alguns passos e sermos obrigados a deslocar uns 200 metros à esquerda e voltar só pra seguir o sentido da fila. Estava bem tranquilo no horário que cheguei, sem qualquer problema.

O Campo de Marte é um lugar bem aberto e bom para se ter um show com grande quantidade de gente. Os banheiros ficavam logo no começo da entrada. Gostei porque eram bem amplos e rápidos de usar, feitos para não perder tempo. Ponto positivo. O negativo é que este era o único em todo o local e ficava bem longe do palco. Se a gente quisesse voltar, tinha que perder metade do show só pra isto. Não ingeri mais nenhum líquido a partir deste momento só pra não ter que voltar.

Comida dentro era um absurdo de caro, claro. Copo de cerveja R$8,00. Um cone de batata frita saia por R$12,00. Tinha um gordão do meu lado que deve ter pegado uns 3 desses fora várias cervejas. Se ele tinha tanta grana assim, me pergunto por que não economizou e comprou uma entrada vip? Enfim. Apesar de grande ele era cercado de grades de contenção, nos obrigando a dar uma puta volta do espaço só pra chegar mais próximo no local. No meio era mais cheio e nos cantos mais vazios. Então nos posicionamos do lado direito e colado numa grade. Parecia o local perfeito, mas a noite seria longa. Os telões espalhados pelo local tinham uma imagem perfeita, muito nítida. Sem dúvida HD. A visão do palco também era muito boa, diferente da que eu tinha experimentado no show do Ozzy no estacionamento do Anhembi.

Sempre antes desses eventos os organizadores costumam tocar umas músicas de rock pra tornar o ambiente mais parecido com o que vamos enfrentar. Em outros shows que fui, ouvi bandas de todo tipo e Metallica é sempre bem recebido pelo público. Neste dia eles escolheram umas músicas do AC/DC. Foi ótimo. O problema é que parece terem trazido apenas UM cd. Então ficávamos ouvindo as mesmas músicas em um loop infinito sem parar. Comecei a ficar com raiva de ouvir pela décima vez Back in Black, Whole Lotta Rosie ou Highway to Hell. Custava terem trazido mais alguns CDs de outras bandas ou ligarem na KissFm ou 89Fm?

Além da música de fundo de vez em quando eles ligavam o telão pra passar um vídeo promocional do evento. Assim que ligavam as luzes a galera já se agitava pensando ser o início das atividades da noite, mas faltavam ainda algumas horas até o primeiro show do Megadeth. Novatos! No vídeo eles apresentavam os locais de saída de emergência (que estavam todos fechados quando passei do lado), banheiros na puta que pariu e 500 bares caros espalhados em todo o lugar (isto eles não economizaram). Ai começou as propagandas. Passaram tantas vezes este maldito vídeo que o público começou a ficar com raiva dos anunciantes. Será que a Sky não se tocou que bandinhas pop/teen em um comercial sendo exibidas para um público que curte metal não é uma boa publicidade? Se eu estou no departamento de marketing deles, diria na hora pra contratarem o Sepultura pra mostrar sua marca e usar a propaganda neste evento. Mas não. Então começaram as zoeiras. Um cara gritava pra todo mundo ouvir que a Sky era uma bosta e quem todo mundo assinasse a Net. Era só começar a propaganda de novo pro público dar aquele “ahhhhh não” de desespero e tristeza. Tenho certeza que depois daquela noite muita gente saiu odiando a Sky.

Uma parte boa do evento foi a antecipação das bandas. O Megadeth entrou com alguns minutos de antecedência e o Black Sabbath entrou meia hora antes. O show terminou as 23h, possibilitando que o público conseguisse pegar o metrô. Eu já fui preparado pra sair depois da meia noite, como sempre acontece nesses eventos. A saída do local foi muito mal planejada. Ficou claro que eles pensaram bem na chegada, mas esqueceram da saída. Eram 77 mil pessoas saindo em um funil, já que a porta de saída era de apenas alguns metros. Depois que o público deixava o local, caia imediatamente na av. Santos Dumont. Imagina o mar (não, o tsunami) de gente invadindo a avenida e as ruas adjacentes. Deu até do dos carros ilhados no meio do público. Eles devem ter passado muito tempo ali. Imagina toda essa galera indo para o metro mais próximo, o do Carandiru? Travou, claro. Impossível e entrar. Resolvemos andar até o próximo. Levou pelo menos meia hora, mas conseguimos finalmente chegar. Estava tranquilo e fácil. Se houvesse um pouco mais de organização, todos tinham conseguido embarcar com tranquilidade. Por causa desta caminhada noturna pegamos o último trem que saia da estação Luz e fomos direto pra casa desmaiar, depois de 6 horas de pé e pulando.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Black Sabbath - São Paulo - 11/10/2013

Nunca imaginei que estaria escrevendo estas linhas já que achava impossível assistir a este show histórico, com a reunião da banda original do Black Sabbath, pai do metal. Eu sei que o baterista Bill Ward não veio, mas só de ter o frontline com o trio original já vale qualquer ingresso. É uma coisa que podemos colocar naquele caderninho de conquistas que temos na vida: presenciar uma apresentação do Black Sabbath: Checked. Aliás, tenho na mesma lista de desejos a ida a um show do Heaven’n’Hell, banda que Tony Iommi formou com a formação do Black Sabbath com o Dio, logo tenho o conjunto completo de Ozzy + Dio. É um capítulo da minha vida já preenchido e me sinto grato aos céus por esta oportunidade.

A banda, seguindo o exemplo que deu em Porto Alegre, entrou com quase meia hora de antecedência do horário marcado. Acho que foram acordar o Ozzy, que estava descansando ai o bicho acordou animadão, cheirou uma carreira e correu pro palco. Do jeito que ele se animou e agitou a galera, nem parecia que tinha 64 anos. A banda toda estava em boa forma, com muita vontade de tocar pra gente. É difícil dizer, mas acho que o público sente esta energia vinda do palco. Eu senti que eles estavam dando tudo de si ali. Sei que é profissionalismo e estavam sendo muito bem pagos para tocar pra gente, mas eu percebi uma entrega de todos os integrantes em fornecer um show digno do nome Black Sabbath e acho que isto foi entregue com maestria.

O começo com War Pigs não poderia ter sido melhor. Só o primeiro acorde grave da guitarra do Iommi já fez o chão tremer e dar aquele frio na barriga. O som estava excelente, acho que usaram o coitado do Megadeth pra ficar ajustando as caixas acústicas. Ao subir as cortinas aparece o Ozzy malucão como sempre e a banda em formação clássica do jeito que a gente sempre sonhou vendo os shows de 1968. Viajei no tempo naquele momento e juro que vi a mesma banda dos primórdios de quando eram apenas garotos de Birmingham tentando fazer um som diferente pra época e com letras obscuras. Quem diria que mais de 50 anos eles estariam repetindo as mesmas músicas pra 77 mil paulistas ensandecidos.

Juro que eu tentei gravar alguma coisa pra ficar pra posteridade. Mas isto se tornou praticamente impossível não só porque o povo ficava empurrando e pulando, coisa que atrapalhava a gravação e tinha o perigo de derrubar meu celular e o mesmo ser pisoteado e perdido pra sempre, mas porque eu também queria aproveitar o show da melhor forma. Depois de War Pigs eu resolvi gravar a música seguinte. Mas qual foi minha surpresa quando Iommi começou o riff de Into the Void mais lento do que o normal fazendo o som reverberar nas gigantes caixas acústicas. Acho que se tivesse um copo de vidro ali ele tinha se quebrado imediatamente. Na hora desliguei meu celular e entrei em estado de completa hipnose e não acreditando no que estava vendo. Into the Void é minha música preferida da banda principalmente por seus riffs fantásticos que espero em um futuro não muito longe estar tocando em minha guitarra ainda não comprada. A música foi tocada a perfeição do jeito que eu queria e sonhava.

Era muito engraçado o Ozzy colocando a mão no ouvido gritando para o pessoal “I can’t hear you”. A galera grita e ele diz “louder”. Mais gritos. E ele repete “louder” umas 10 vezes. Acho que eu sai rouco e com uma dor de garganta forte, fora a dor nas costas de ter ficado praticamente 6 horas de pé, pulando e lutando contra o empurra empurra. Os telões passavam imagens que faziam relações com as músicas tocadas e o set list se baseou nos primeiros quatro discos, coisa que todo fã quer.

Depois de Under the Sun eles tocaram Snowblid, outra música que junto de Into the Void tem riffs fortes e pesados, que embarcamos direto no clima da música. Sabbath é isso, é aquele peso da guitarra com um riff poderoso e constante, deixando o corpo ser levado no ritmo da melodia e a mente coletiva das pessoas entrarem na mesma sintonia das batidas da bateria e do baixo, com a voz cortante e aguda do Ozzy pra dar aquela quebrada necessária na gravidade do som.

Já as músicas do Thirteen, novo disco da banda se encaixaram perfeitamente nas músicas antigas. Quando saiu, eu ouvi uma vez pra matar a curiosidade, mas não ouvi mais. Só peguei para ouvi-lo com cuidado recentemente e percebi que elas têm muita qualidade, chegando a ser tão bom quanto à primeira fase da banda dos anos 70. Age of Reason e principalmente End of the Beginning tem tudo o que o Sabbath sempre fez de melhor e não decepciona os fãs. Normalmente quando tem show de bandas bem conhecidas com músicas já fixadas na mente, este momento do show onde apresentam o novo material é sempre o mais chato e entediante, a barrida do evento. Mas neste caso eu encarei com mais um clássico da banda, este disco já nasceu clássico em minha opinião. É só ouvir os acordes lentos de End of the Beginning pra saber o que eu estou falando, quem conhece a banda e curte não pode dizer que aquele peso não é próprio deles, já nasceu com eles.

Na música Behind the Walls of Sleep jogaram umas luzes coloridas no fundo do palco fazendo o cenário lembrar muito aqueles efeitos toscos dos clipes da banda em Paranoid e Iron Man, novamente nos transportando ao passado e ao que a banda sempre foi. Os primeiros acordes de N.I.B. executados a maestria por Geezer Butler prenunciaram mais um clássico que não poderia deixar de tocar, uma das obrigações da banda em um show recheado de clássicos. Aliás, em matéria de performance ninguém deveu nada, todos tocaram e fizeram performances memoráveis.

Uma das minhas interrogações era o baterista que eu não conhecia. Bill Ward, original, não embarcou no reunion. O Brad Wilk, do Rage Against the Machine gravou o último disco, mas não veio nesta turnê. Então chamaram o Tommy Clufetos, que faz parte da banda do Ozzy. A performance dele é fantástica, digna dos grandes bateristas de metal. Chamou-me a atenção desde a primeira música tocada, do jeito que ele tocava com energia. Existem shows em que o baterista fica praticamente escondido atrás do instrumento e a gente só imagina que ele está lá tocando. Mas neste caso a bateria era bem aberta e visível e dava pra conferir cada batida que ele dava. Toda a estrutura era simples, como se fosse um show há 50 anos, apenas com os instrumentos e com os integrantes em sua posição.

O momento mais forte e especial da noite foi a execução da música Black Sabbath. É indescritível a sensação que deu, só estando lá pra saber. Todas as luzes se apagaram e ficou apenas o símbolo em vermelho, com aquele barulho de chuva no fundo. Eu até desejei que chovesse naquele momento pra deixar o clima perfeito. Então diferente das outras músicas onde apareciam imagens aleatórias, neste caso apareceu apenas o logo da banda parecido com o do disco Master of Reality só que meio embaçado. Naquele momento eu tive certeza de ter viajado no tempo. Os acordes da guitarra eram seguidos em coro por todo o público quase como numa missa satânica, todos sabem que a letra fala sobre o demônio, mas é apenas uma letra e não tem nada a ver com a filosofia da banda. E a risadinha maléfica do Ozzy? Foi um momento muito especial. E eles não precisam nem de fumaça de gelo seco nem de pinturas no rosto ou de fantasias pra dar aquele peso no ambiente.

Tem coisas que ganham o público. O Ozzy é carismático e acho que as coisas que ele faz são genuínas e não é pensado. Que ele tem o cérebro fritado assim como o Keith Richards todo mundo sabe, então alguns comportamentos dele com ficar com aquela cara de perdido e sem saber o que fazer enquanto o Iommi está fazendo um solo já são esperadas e compreendidas, e até um pouco engraçadas, mas nada ridículo. Em outro solo de guitarra ele literalmente se ajoelhou e reverenciou ao colega Tony e ao Butler. Só isso já joga todo o público pro seu lado. Fora as interações com o público que são muito engraçadas. E logo após a música God is Dead ele diz God bless you all. Mais louco que isso impossível.

Paranoid veio pra coroar a noite. Antes eles deram uma palhinha do riff de Sabbath Bloddy Sabbath, talvez a única grande falta no repertório da noite e que merecia ser tocada na íntegra. Mas também se fossem incluir as que faltaram o show ia ter 5 horas. Só de ter durado 2 horas eu já fico feliz, pois os vovôs agüentaram firmes durante toda a performance.

Checked!

sábado, 12 de outubro de 2013

Megadeth em São Paulo 11/10/2013

Excelente escolha para uma banda de abertura na turnê do Black Sabbath no Brasil. Normalmente esses organizadores insistem em colocar bandinhas idiotas novas ou desconhecidas para abrir o show de uma grande banda. Neste caso colocaram uma grande banda de respeito no mundo do metal. Eu já tinha assistido à apresentação deles na comemoração de 20 anos do álbum Rest in Peace, mas gostei muito deste show também. O set list foi honesto e colocaram realmente as melhores músicas da banda, as "carnes de vaca" como meu amigo disse. Claro que os fãs sempre dirão que faltou uma e outra de sua preferência. Mas para fazer um show de apenas uma hora, é preferível que coloque aquelas obrigatórias e uma ou outra surpresa e fechar a conta. Foi o que eles fizeram.

Uma coisa bem diferente do show anterior que eu vi e deste foram os efeitos dos leds atrás da banda. A tecnologia dos telões foi acima da minha expectativa e fiquei bem impressionado com a qualidade das imagens e dos vídeos que passavam. Parecia coisa de primeiro mundo mesmo e a banda estava bem animada.

Mas um ponto fraco no show do Megadeth foi a qualidade do som. Começou muito baixo, quase não dava pra ouvir o Dave Mustaine cantando e nem diferenciar as guitarras do baixo. As três primeiras músicas tinham até um som meio abafado no fundo, estava muito ruim mesmo. Já a partir da quarta música as coisas se acertaram e o som ficou decente. Tem músicas que não dá pra enjoar como Hangar 18, Wake Up Dead e Holy Wars, minhas preferidas.

Uma coisa que não teve no show anterior que eu havia visto e que teve neste foi a aparição do Vic Rattlehead no meio da apresentação, não me lembro que qual música aconteceu. Assim como o Eddie do Iron Maiden, ele entro, deu uma voltinha, acenou pra galera e já foi embora. Achei bem cópia do Maiden. Na verdade o conceito do Vic é a mesma, de aparecer em praticamente todas as capas dos discos, mas eu nunca tinha visto ele entrar no palco. Só que não é tão elaborado quanto o Eddie, é só um cara com a máscara de Vic e um terno estilo Rest in Peace.

Segue o set list.

(Prince of Darkness)
Hangar 18
Wake Up Dead
In My Darkest Hour
She-Wolf
Sweating Bullets
Kingmaker
Tornado of Souls
Symphony of Destruction
Peace Sells
Holy Wars... The Punishment Due
Silent Scorn
My Way (Sid Vicious song)

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Palestras no bar

Meu sonho do dia.
Eu estava de férias em uma cidade litorânea do nordeste, quente com aquele ar salinizado vindo do mar e uma vida mais devagar que os centros urbanos. Na noite passada eu frequentei um bar quase de frente para o mar perto de uma pequena pracinha na cidade. Era um bar isolado, mas bem grande, com dois andares e aberto, feito com bambus e palhas no teto. Era tão rústico que no chão do primeiro andar a areia ia até quase dentro do ambiente. Não sei o que houve, mas tive certo desentendimento com o dono do bar. Não brigamos, mas não gostávamos um do outro.

No dia seguinte, depois de dormir na pousada, voltei à cidade e me deparei com várias barracas e palcos montados naquela pequena pracinha de frente ao bar que eu fui à noite passada. Existia uma feira de negócios ou um encontro de negociantes e tinham barracas de vários tipos feitas para palestras. Algumas, mais abastadas, possuíam um palco enorme com microfones, holofotes e espaços para o público contemplar a apresentação. Ao mesmo tempo existiam cubículos de 2 metros por 2 onde o palestrante se apertava e torcia para que algum ouvinte se aproximasse e ouvisse o que ele tinha a dizer.

Aproximei-me do local e fiquei observando o fluxo de pessoas que visitavam os stands e reparei numa moça linda e loira do lado de fora da feira. Essas barracas eram posicionadas uma ao lado da outra e se olhasse de cima estavam em formato de U no espaço da feira. Os visitantes entravam por uma grane abertura e esta moça estava numa ponta do U conversando rispidamente com o dono do bar, o mesmo da noite passada. A conversa não ia bem, percebi que eles não se gostavam e ele parecia estar dando uma dura nela, repreendendo-a por causa de alguma coisa. Não entendi muito bem. Enfim. Logo depois ele a deixou e voltou para seu bar em frente à praça. A moça permaneceu um pouco mais fumando um cigarro. Quando terminou, abriu uma pequena portinha na parede ao lado de um dos stands e entrou em uma pequena barraquinha. Descobri então que ela era uma das palestrantes do local.

Resolvi me aproximar da barraca dela. O barulho era ensurdecedor. Imagina vários palestrantes falando ao mesmo tempo um ao lado do outro. Entre os pequenos palestrantes, não havia problema, pois aparentemente eles falavam baixo e não prejudicavam o outro que estava ao lado. Mas o problema eram aqueles que tinham microfones e música. Para se ouvir estes menores tínhamos que nos aproximar do balcão.

Muitas dessas pequenas barracas não havia nenhum ouvinte para sua palestra, eram ignorados, mas os palestrantes deveriam discursar independente de ter alguém escutando, como se fosse uma televisão ou um boneco. Então várias pessoas estavam falando para um ouvinte imaginário na sua frente, fazendo uma performance sem público enquanto os visitantes circulavam pela feira.

Neste momento cheguei próximo da barrada da loira e tentei ouvir o que ela estava dizendo. Ninguém a escutava, apenas eu. O barulho estava muito forte, principalmente o que tinha do outro lado do U, onde havia o grande palco com um microfone e que estava sendo acompanhado por várias pessoas. Na barraca da loira tinha posters com mapas e camisetas pendurada, livros expostos para vender.

Como sua voz era baixa, me aproximei e estiquei minha orelha pra tentar ouvi-la. Ela percebeu minha chegada, mas continuou sua exposição de onde estava como se nada tivesse acontecido. Seu sotaque era lusitano e a parte que consegui ouvir da palestra era que ela vivia em uma cidade litorânea de Portugal e que tinha sido prostituta por um tempo e contou outras coisas de sua vida até que acabou a história. Acompanhei, na verdade, apenas os dez minutos finais, mas estava fascinado por ela. A seguir, seria a hora das perguntas e eu não tinha muito material para formular uma questão já que prestei atenção apenas no final da sua palestra.

- De que lugar de Portugal você veio, de Lisboa? – perguntei. - Não, de Guimarães. - Me desculpe, mas acho que só ouvi o final de sua palestra. - Não tem problema. Se quiser ouvir de novo, faço outra daqui a duas horas.

Ela sorria de um modo bem simpático e agradável. Eu queria conversar mais com ela, saber mais sobre sua vida. Fiquei impressionado por ela ter dito que se prostituía no cais do porto. Pra mim este lugar é um lixão onde só se recebe os piores tipos de caras. Ela era linda, como era possível que ela tivesse frequentado aquele lugar rústico?

- Um cais do Porto deve ser um lugar muito rústico e agressivo né? – perguntei tentando decifrá-la.

Ela não me respondeu. Virou-se, saiu por aquela portinha na lateral da barraquinha e me levou em direção do bar. Ao passarmos na entrada, o dono do bar que estava no balcão mais a frente olhou para a gente com um olhar de ódio em uma cara fechada. Senti a tensão no ar, mas estava mais interessado na moça. O bar estava cheio e para chegar numa mesa lá dentro, tivemos que passar por várias pessoas que se acotovelavam de pé na entrada. As pessoas gostavam de beber de pé conversando e olhando a paisagem do lado de fora. Dentro do bar as mesas estavam mais vazias e também o ambiente estava mais fresco por causa da sombra do teto. Lá fora o sol estava bem forte.

Em todos os momentos eu carregava um livro debaixo do braço. Minha consciência da vida real já influenciou minha vida dos sonhos, pois projetamos nossa aparência em um sonho do jeito que achamos que somos. Se alguém me achar na rua, é certeza que eu estarei com um livro debaixo do braço. Ao sentarmos, coloquei o livro em cima da mesa com a capa pra cima. Ela na hora olhou para o livro pra saber qual eu estava lendo. O livro se chamava “Sereia Sereia” e era de um escritor francês chamado Gaulle não sei das quantas. Perguntei se conhecia e ela confirmou que já leu de um modo como se fosse óbvio que já tinha lido tal obra. Um pouco envergonhado disse que nunca tinha lido nada deste autor e que havia escolhido este como teste pra ver se eu gostaria. Ela assentiu, com educação.

Eu estava impressionado por ela se demonstrar culta, inteligente e bonita ao mesmo tempo. Como uma moça daquelas acabou se prostituindo no cais do porto? Eu queria abordar a questão sem ofendê-la, de um modo mais sutil e não estava conseguindo formar a frase. Repeti aquela que eu tentei fazer e não tive resposta: “Um cais do Porto deve ser um lugar muito rústico e agressivo né?”.

Fiquei sem resposta novamente, mas desta vez porque acordei. Fiquei fascinado com a riqueza de detalhes que lembrava. Depois de me levantar, fiquei curioso em descobrir se as coisas que lembrava realmente existiam. - Em primeiro lugar entrei no Google e procurei por Guimarães e sua localidade no mapa de Portugal. Para minha decepção, Guimarães não é uma cidade litorânea como a loira disse no meu sonho. - Procurei por um livro chamado “Sereia sereia” e não achei nada. - Procurei por um escritor chamado Gaulle e a única coisa que o Google me traz são informações sobre Charles de Gaulle, ex presidente Francês.

Mas vale pela história.

sábado, 5 de outubro de 2013

Os Estagiários

Fomos assistir ao filme Os Estagiários com a galera do serviço mais os próprios estagiários do mundo real. Mas gostaria de falar algo sobre este filme que me incomodou e me tirou da imersão da história, que é o fato deles fazerem uma propaganda imensa sobre o Google. Todos sabemos que deve ser uma boa empresa para se trabalhar, assim como outras grandes de tecnologia como a Apple, a Microsoft, o Facebook, etc. Mas achei um exagero e acabou estragando um pouco a história que também não foi lá essas coisas. Vince Vaughn, ator do filme e roteirista não está com essa bola toda não, tem que comer mais capim pra melhorar.

Tudo na vida é impulsionado pelo dinheiro, não sejamos hipócritas. Os interesses mudam de acordo os poderosos, o dono, quem controla a coisa quer. Se chega um patrocinador e quer que a história vá para um lado diferente, na hora eles mudam o roteiro. Acho que foi o que aconteceu neste filme. Vince Vaughn escreveu sobre uma grande empresa, ai o Google deve ter chego e pedido para nomeá-la. O problema é que ficaram martelando Google na nossa cabeça o filme inteiro, um saco.

Não é uma coisa rara. No filme Do que as Mulheres Gostam, o Mel Gibson testa vários produtos durante a história por se tratar de um personagem publicitário. No Náufrago, do Tom Hanks, eles martelam toda hora que a Fedex é a melhor empresa de todos os tempos e que a bola Wilson é sua companheira e sua amiga. Mas neste caso, pelo menos o filme era muito bom e a gente até agüenta a publicidade forçada. Nas novelas da Globo está cheio de publicidade. Eles criam cenas de diálogos entre personagens só pra mostrar comendo um produto. A cena é tão patética que ele para o que está fazendo, vira pra câmera e começa a degustar o produto falando que é muito bom.

Acho uma coisa perigosa esta de alterar uma obra a tal ponto em que possa se falar de um produto no meio da história do filme. Se perder a mão, tem o risco de estragar um bom filme. Se um personagem vai pegar seu celular e ligar pra uma amiga e a câmera focar no aparelho, acho válido o produtor vender a cena pra uma operadora onde pode mostrar a marca Samsung, Motorola, Nokia ou qualquer outra. Não altera nada na continuidade do filme e ainda insere um nome na cabeça do telespectador. Agora quando os diálogos e a cena são direcionados exclusivamente para o produto, com vi acontecer em Os Estagiários, pra mim estraga todo o sentido do filme. É igual aqueles textos em revistas que parece uma matéria normal, mas na verdade são informes publicitários para enganar o consumidor.

Lembrei de outro filme muito parecido com Os Estagiários, que é Ameaça Virtual. Neste filme os estudantes vão trabalhar na empresa dos seus sonhos também e o nome não é divulgado ou conhecido. Mas todos sabemos que se trata da Microsoft. Até o Tim Robbins, ator que faz o dono da empresa, está caracterizado igualzinho ao Bill Gates. Tudo bem que no filme eles falam mal da empresa, então seria uma má publicidade e teria um risco de processo e entendo o porquê deles esconderem o nome. Mas acho que os filmes deveriam ser assim, mostrar a marca, mas não tão explicita e sim de um jeito que nós entendemos. Mas isto é ilusão num mundo capitalista como o nosso.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Memória dos sentidos

Quando estamos fazendo uma dieta, temos que deixar de comer certos alimentos que são deliciosos e prejudiciais a saúde e ao corpo. Mas constantemente somos tentados a deixar para trás nossa intenção de emagrecer e partir pra cima do desejo e da tentação do proibido. O doce, a massa, o pão, são como satanás que tentam Jesus durante 40 dias no deserto. Precisamos de uma iluminação divina para recusar todas essas ofertas maravilhosas que são empurradas em nossas vistas.

Se fosse somente a visão que nos tentaria, dava pra dar um jeito fácil. Mas outros sentidos são igualmente ou mais torturantes. Quem nunca passou perto de um lugar onde estavam fritando bacon e não deu água na boca. E cheiro de pizza, massa com queijo e carne. Meu Deus, está me dando até fome agora enquanto escrevo.

Mas o que motivou este texto foi ainda além de tudo isto. Para um dependente gorduroso, um viciado em comida que não presta, qualquer coisa que o lembre que existe uma vida melhor e que ela está num rodízio de comida faz com que imediatamente fantasiamos desfrutando de todas aquelas coisa que tanto apreciamos.

Para se resistir a uma tentação, é preciso que não nos lembremos que aquilo existe. Enquanto não temos contato, até dá pra aguentar. É por isso que dependentes químicos e viciados em drogas precisam ser internados em instituições onde ele é isolado de qualquer tentação daquilo que mais gosta. Para os gordos esta instituição se chama SPA. O primeiro momento é o mais forte, onde tem a quebra do consumo das drogas/comida gordurosa. Depois vem uns dias de adaptação do corpo a esta nova realidade. E depois nós nos acostumamos a esta nova vida e achamos que existe uma luz no fim do túnel. Mas ao voltar à sociedade, seremos novamente bombardeados com estas tentações e é preciso cuidado extra para não voltarmos à velha forma.

Quem não tem dinheiro como eu, temos que nos recorrer a um esforço ainda maior, já que não temos o isolamento necessário para que haja uma barreira brusca ao contato com as porcarias. Uma simples palavra proferida ao vento já me faz ter alucinações acordado. Quando alguém me oferece um bombom, imediatamente meu cérebro imagina o bombom na minha frente e me trás a memória de quando eu comi um no passado, traz todas as sensações de degustação deste momento. Parece que estou comendo o bombom naquele segundo. Quando a memória se vai, o desejo aumenta e queremos repetir aquela sensação imediatamente. É ai que a força de vontade tem que ser mais forte ainda.

A melhor forma é fechar os olhos, tapar os ouvidos e evitar ir a lugares onde sua força de vontade será realmente testada. Passar ao lado do Mcdonalds com fome é tentar o suicídio. Praças de alimentação em shoppings são traiçoeiras. A melhor forma é não ficar muito tempo com fome e sempre carregar um lanche com você. Na hora que você achar que vai ceder, recorra a este lanche como se fosse uma bóia salva vidas.