quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Chaika

37ºMostra Internacional de Cinema São Paulo
2012 – Espanha/Geórgia/Rússia/França

“Somos Cazaques. Somos homens livres. Somos guerreiros. Somos a simplicidade do mundo e seu fim”.

Este é mais um daqueles filmes que te embarcam numa cultura diferente, num universo alternativo, dando a oportunidade de conhecermos a vida de outros seres que estão a milhares de léguas longe, pessoas que provavelmente nunca teremos a oportunidade de ver in loco. São coisas que o cinema nos proporciona, uma viagem de suas horas para um lugar diferente de nossas vidas cotidianas e percebemos que nossa vida não é nada, os problemas que enfrentamos no cotidiano não são nada.

Chaika é uma prostituta que trabalha fazendo programa em um navio cargueiro. O quão degradante isto é? Ela vai entrando naquela embarcação gigante, com pouca higiene e passa por um corredor estreito junto com suas colegas num corredor com vários homens daquela estirpe, prontas para o abate. Um pouco parecido com aquela cena do filme Bruna Surfistinha que me ela faz uma fila de caras todos podres pra comê-la. Ela acaba engravidando e sendo rejeitada num cais do porto. Um dos marinheiros gosta dela e decide acolhe-la neste momento de abandono, uma prostituta com filho.

Ela embarca nesta, desesperada, mas não imagina o quão longe o cara mora. Ele decide pegá-la do calor o Cazaquistão e levá-la para a casa de sua família no inverno eterno da Sibéria. O lugar é tão isolado que só o ambiente já seria de extrema dificuldade. Mas soma-se a isto a família do marinheiro que não é nada amistosa e deixam o ambiente mais carregado ainda. O clima de opressão é grande e ela se vê numa posição de prisioneira já que para sair dali sozinha é muito difícil devido ao terreno acidentado com clima terrível. Ela chega a pedir para seu companheiro para partir, mas a situação vai se prolongando. Lembrou-me muito do filme Casa de Areia, onde a Fernanda Torres se vê na mesma situação. Outro filme que explora o isolamento e a dificuldade de sair é A Massai Branca.

Se nós paramos pra pensar é uma metáfora para os problemas que enfrentamos na nossa vida. Passamos por situações aflitivas e opressoras no dia a dia, mas conseguimos seguir em frente, suportando uma carga de pressão em nossos ombros porque não sabemos como sair daquela posição. Não estamos contentes e temos vontade de sair. Mas da decisão de mudar e realmente por a mão na massa tem uma distância quilométrica. Muitos sonhos são adiados, muitas decisões não são tomadas esperando uma época ou situação melhor. No filme ela sempre adia a saída da Sibéria para o fim do inverno, ou quando seu companheiro decidir acompanhá-la, ou quando a mãe dele morrer. Sempre tem algo que a faz suportar a dor da situação para que no futuro consiga voltar ao seu país de origem.

Apesar da reflexão, sai do cinema um pouco deprimido. É um filme com imagens belíssimas do deserto do Cazaquistão e na inóspita Sibéria, mas com o retrato de uma vida que parece ser de outro planeta. Parece que é uma família vivendo em Marte.

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