quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Sonhos de Robô

Sempre fui fã e Asimov desde pequeno, quando li Eu Robô. E desde então sabia que ele era conhecido por ser o escritor com mais gabarito para falar de robôs. Mas ele não escreve apenas sobre isto. Li também a série Lucky Starr onde ele escreve romances sobre um patrulheiro estelar que junto com um marciano passa por vários problemas. Li também um livro chamado Os viúvos negros, coisa totalmente fora da área da ficção científica, pelo qual é conhecido, onde discute problemas existenciais com um grupo de idosos intelectuais, também excelente. Na verdade até hoje nunca li nada dele que não fosse excepcional.

Após muitos anos sem rever sua obra, resolvi pegar o “Sonhos de Robô”, na área mais própria. Inicialmente não sabia, mas também é um livro de contos. Diferente do que eu pensava, os contos não são apenas sobre os Robôs, mas existem outras histórias excelentes sobre ficção científica ou pensamentos sobre a vida. Selecionei alguns dos melhores para comentar.

Sobre robôs: O pequeno robô desaparecido e Sonhos de Robô. O Asimov foi o criados das 3 leis básicas da robótica onde limita a liberdade de ação deles, mas em suas histórias o autor usa de artimanhas para dobrar a lógica comum e colocar o robô em conflito com suas diretrizes. É um exercício maravilhoso tentar raciocinar com o protagonista em como resolver as equações propostas e burlar o problema das leis.

Apesar de serem contos que podem ser lidos independentes dos outros, as histórias pertencem a um mesmo universo, que são geridos pelos mesmos personagens e ambientes e se prestar atenção existe uma cronologia de fundo. Algumas coisas aparecem em mais de um conto como a doutora Susan Calvin, uma robopsicóloga e o computador central Multivac, uma clara referência ao que se tornaria a internet nos dias de hoje. Asimov foi um visionário, prevendo muita coisa que acontece hoje e que tende a acontecer no futuro não muito distante.

Já o que mais me impressionou foi a qualidade dos textos que não se trataram sobre robôs. Toda excelente ficção científica tem uma discussão sociológica profunda de background, por exemplo:

Os incubadores – Sobre um cientista tão inteligente e acima do pensamento dos outros que não vê mais sentido numa vida sem desafios.
A Hospedeira - Discute coisas como a morte por inibição e o advento de uma raça parasita sem que saibamos da existência.
O Fura-greves - Conto que faria funcionários públicos grevistas adorarem e que também discute sobre preconceito.
Verso de luz - Também fala sobre preconceito e de como cada um de nós somos perfeitos nas nossas imperfeições. É Deus que nos cria assim e cada característica que nos define faz parte de nossa personalidade e são coisas valiosas.
O garotinho feio - Sobre a nossa responsabilidade com os experimentos científicos quando envolve outros seres. Hoje em dia pode-se fazer um paralelo com o caso dos Beagles e dos ratos de laboratório de São Roque.
Democracia eletrônica - Uma interessante idéia de como uma eleição poderia ser realizada quando não se puderem consultar os eleitores.
A mulher da minha vida - E se um computador pudesse escolher a mulher perfeita pra gente?

Mas os melhores contos são sobre assuntos existenciais. Asimov era ateu, como todo com cientista, mas pensava sobre a vida após a morte e o sentido da vida. Ele escreveu histórias excelentes como as seguintes:

O que os olhos vêem – Como seria a vida daqui a milhões de anos quando a nossa consciência for mais importante do que o corpo físico. De certa forma ele fala sobre quando o ser humano se tornar espírito.
A última pergunta – Quando o planeta Terra estiver se extinguindo e a entropia começar a fazer efeito no Universo.
A última resposta – O melhor texto que já li dele. Uma pessoa morre e se encontra com um ser do outro lado da vida que lhe explica o que existe no além.

Asimov é obrigatório.

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