sábado, 3 de maio de 2014

Jogador número 1

É um livro futurista distópico que usa muitos elementos de realidade virtual como Ghost in the Shell, Matrix ou mesmo Neuromancer. O ano é 2044 e a sociedade entrou em colapso, crise social onde grande parte dos cidadãos não tem alternativas para sobreviver. Como toda boa ficção, é apenas uma exacerbação da nossa própria sociedade atual, exagerada em alguns pontos para mostrar aonde podemos chegar caso soluções não sejam desenvolvidas desde já para evitar este estilo de vida degradado. Gostei muito da construção deste universo alternativo. A comunidade mais pobre, no livro, viverá em grandes favelas feitas através do empilhamento de trailers em grandes andaimes. Será um mundo sem lei onde todos estarão conectados a um sistema online de realidade virtual chamado OASIS, que é uma alternativa para escapar de um mundo real horrível.

O OASIS é o que o Second Life seria se tivesse dado certo. É uma transposição de realidade onde as pessoas usando luvas e óculos especiais podem literalmente viver outra vida mais agradável, com um nível de sensibilidade beirando ao real. Exceto para necessidades básicas do corpo físico como comer, dormir ou defecar, todos estarão online para viver. O personagem principal, Wade ou Parcival, estuda em uma escola virtual no OASIS, o que achei uma ótima idéia para nosso mundo real já que universaliza o estudo e o conhecimento à todos como a internet tenta fazer hoje em dia através de Wikipédia e vídeos de aulas auto-instrucionais.

O criador deste mundo é James Halliday, uma espécie de Steve Jobs do livro que vem a falecer e não tem herdeiros. Então é divulgado um vídeo onde ele ativa um concurso para herdar o controle total do OASIS e mais sua fortuna de USD 240 bilhões. O concurso é como se fosse um jogo online para localizar três chaves escondidas na simulação. E o tema que mais Halliday gosta é o universo dos anos 80, onde viveu sua infância. Então todos os jogadores e nós leitores embarcamos num estudo da cultura pop da década de 80 para tentar decodificar pistas para encontrarmos juntos as chaves. Para quem viveu uma parte dos anos 80 o livro é uma delícia, pois relembra muitas coisas das quais já vimos e gostamos, ativando uma nostalgia daquela época. Talvez quem não conheça este período pode não aproveitar a história em sua plenitude. Músicas e filmes dos anos 80 são usados nas quests, mas basicamente a história usa os jogos como base. Eu não sou muito fã de games, apesar de ter jogado muito na minha infância, mas mesmo assim gostei.

A experiência do leitor depende muito do grau de envolvimento que desenvolve com a história. Se você embarcar no universo criado, vai se divertir muito com o cenário pós apocalíptico criado. Se não, vai achar uma grande galhofa de história repetida já vista com outros cenários. É preciso certa abstração, uma imersão na história, uma suspensão de descrença para que a leitura seja prazerosa. Apesar de várias referências a livros mais inteligentes, a história é feita para o público teen, um tipo de Percy Jackson para gamers. Então aquele leitor mais xiita que gosta de coisas mais complexas não vai se conectar muito aos personagens que são quase todos crianças e adolescentes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário