sexta-feira, 1 de maio de 2015

O que é a vida?

Antonio Abujamra era uma figura enigmática. Sua presença e impostação de voz faziam as pessoas prestarem atenção. Sou fã do seu programa Provocações há anos apesar de não ver freqüentemente na TV Cultura, mas às vezes fazia maratona assistindo uns 10 ou 15 programas pela internet, já que ele é de curta duração. Não só personalidades, mas ele levava muitas vezes gente desconhecida para ser entrevistada. Lembro até hoje em que um dia levou um morador de rua autodidata que era muito culto e aprendia coisas com o que conseguia no lixo.

Em suas entrevistas, suas perguntas eram curtas e diretas, deixando o entrevistado discorrer a vontade sobre o assunto para, em seguida, quebrá-lo com sua argumentação. Depois de uma resposta bonitinha pra ficar bem na foto Abujamra sempre dizia que nada era importante, que não devíamos levar a vida tão a sério, que deveríamos errar e errar com gosto, em se arriscar dentre outras coisas.

No término das entrevistas tinham duas perguntas que ele fazia em todos os programas. A primeira era se ele não fez alguma questão que o entrevistado queria que ele tivesse feito. A resposta era a próxima pergunta que fazia. E ele representava como se tivesse pensando na hora.

A última pergunta era algo que ele chamava de simples: “O que é a vida?”. Assim que o entrevistado se contorcia para tentar responder uma coisa tão abstrata assim ele repetia a mesma pergunta. O cara, pressionado a dar outra resposta diferente da primeira, se esforçada e entregava outra coisa. Em seguida ele repetia a mesma pergunta pela terceira ou quarta vez até o entrevistado ficar perdido sem saber o que falar.

Eu entendia esta repetição de “O que é a vida?” como um modo de forçar a extração ao máximo da opinião do entrevistado até não poder mais. É como se ele não acreditasse na primeira resposta dada e dissesse: “Bom, na primeira vez você respondeu o que queria que as pessoas soubessem. Agora responda de verdade, sem rodeios, o que você realmente pensa.”. Eu mesmo ficava pensando em casa o que responderia. É algo impossível.

Ao final recitava um texto de algum pensador. Sempre mantinha um caderninho pra anotar suas referências: Sartre, Schopenhauer, Nietzsche, etc. Procurava conhecer o que ele citava em seu programa. Eu o admirava e sentirei muita falta.